sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Tempo que me foge

Sem muito o que dizer além do fato de que voltei ao meu blog, ilustro este momento com um conto de Rubem Alves que, sempre tão justo com a forma com que fala da vida, me acolhe com suas palavras nestes dias em que o tempo me foge.


O RELÓGIO

Eu tinha medo de dormir na casa do meu avô. Era um sobradão colonial enorme, l
ongos corredores, escadarias, portas grossas e pesadas que rangiam, vidros coloridos nos caixilhos das janelas, pátios calçados com pedras antigas... De dia, tudo era luminoso. Mas quando vinha a noite e as luzes se apagavam, tudo mergulhava no sono: pessoas, paredes, espaços. Menos o relógio... De dia, ele estava lá também. Só que era diferente. Manso, tocando o carrilhão a cada quarto de hora, ignorado pelas pessoas, absorvidas por suas rotinas. Acho que era porque durante o dia ele dormia. Seu pêndulo regular era seu coração que batia, seu ressonar, e suas músicas eram seus sonhos, iguais aos de todos os outros relógios. De noite, ao contrário, quando todos dormiam, ele acordava, e começava a contar estórias. Só muito mais tarde vim a entender o que ele dizia: "Tempus fugit". E eu ficava na cama, incapaz de dormir, ouvindo sua marcação sem pressa, esperando a música do próximo quarto de hora. Eu tinha medo. Hoje, acho que sei por quê: ele batia a Morte. Seu ritmo sem pressa não era coisa daquele tempo da minha insônia de menino. Vinha de muito longe. Tempo de musgos crescidos em paredes úmidas, de tábuas largas de assoalho que envelheciam, de ferrugem que aparecia nas chaves enormes e negras, da senzala abandonada, dos escravos que ensinaram para as crianças estórias de além-mar - "dingue-le-dingue que eu vou para Angola, dingue-le-dingue que eu vou para Angola" - de grandes festas e grandes tristezas, nascimentos, casamentos, sepultamentos, de riqueza e decadência... O relógio batera aquelas horas - e se sofrera, não se podia dizer, porque ninguém jamais notara mudança alguma em sua indiferença pendular. Exceto quando a corda chegava ao fim e o seu carrilhão excessivamente lento se tornava num pedido de socorro: "Não quero morrer..." Aí, aquele que tinha a missão de lhe dar corda - (pois este não era privilégio de qualquer um. Só podia tocar no coração do relógio aquele que já, por muito tempo, conhecesse os seus segredos) - subia numa cadeira e, de forma segura e cotada, dava voltas na chave mágica. O tempo continuaria a fugir... Todas aquelas horas vividas e morridas estavam guardadas. De noite, quando todos dormiam, elas saíam. O passado só sai quando o silêncio é grande, memória do sobrado. E o meu medo era por isto: por sentir que o relógio, com seu pêndulo e carrilhão, me chamava para si e me incorporava naquela estória que eu não conhecia, mas só imaginava. Já havia visto alguns dos seus sinais imobilizados, fosse na própria magia do espaço da casa, fosse nos velhos álbuns de fotografia, homens solenes de colarinho engomado e bigode, famílias paradigmáticas, maridos assentados de pernas cruzadas, e fiéis esposas de pé, ao seu lado, mão docemente pousada no ombro do companheiro. Mas nada mais eram que fantasmas, desaparecidos no passado, deles, não se sabendo nem mesmo o nome. "Tempus fugit". O relógio toca de novo. Mais um quarto de hora. Mais uma hora no quarto, sem dormir... Sentia que o relógio me chamava para o seu tempo, que era o tempo de todos aqueles fantasmas, o tempo da vida que passou. Depois o sobradão pegou fogo. Ficaram os gigantescos barrotes de pau-bálsamo fumegando por mais de uma semana, enchendo o ar com seu perfume de tristeza. Salvaram-se algumas coisas. Entre elas, o relógio. Dali saiu para uma casa pequena. Pelas noites adentro ele continuou a fazer a mesma coisa. E uma vizinha que não suportou a melogia do "Tempus fugit" pediu que ele fosse reduzido ao silêncio. E a alma do relógio teve de ser desligada. Tenho saudades dele. Por sua tranquila honestidade, repetindo sempre, incansável, "Tempus fugit" Ainda comprarei um outro que diga a mesma coisa. Relógio que não pareça com este meu, no meu pulso, qu marca a hora sem dizer nada, que não tem estórias para contar. Meu relógio só me diz uma coisa: o quanto eu devo correr, para não me atrasar. Com ele, sinto-me tolo como o Coelho da estória da Alice, que olhava para seu relógio, corria esbaforido, e dizia: "Estou atrasado, estou atrasado..." Não é curioso que o grande evento que marca a passagem do ano seja uma corrida, corrida de S. Silvestre? Correr para chegar, aonde? Passagem de ano é o velho relógio que toca o seu carrilhão. O sol e as estrelas entoam a melodia eterna: "Tempus fugit". E porque temos medo da verdade que só aparece no silêncio solitário da noite, reunimo-nos para espantar o terror, e abafamos o ruído tranquilo do pêndulo com enorme gritarias. Contra a música suave da nossa verdade, o barulho dos rojões... Pela manhã, seremos, de novo, o tolo Coelho da Alice: "Estou atrasado, estou atrasado..." Mas o relógio não desiste. Continuará a nos chamar à sabedoria: Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será...

sábado, 10 de outubro de 2009

domingo, 4 de outubro de 2009

Verde saudade

Verde cor
Verde esperança
Verde limão
Verde amarelo
Verde mar
Verde mata
Verde vida
Verde sinal
Verde seus olhos
Pedem meus olhos
Ver-te sempre, amor
Verdes caminhos
Ver-te onde eu for
...

(minha saudade tem cor e tem dor,
mas que bom que é saudade,
que bom que é amor...)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Consciência

Hoje é o Dia Mundial Sem Carro e milhares de pessoas (ou seria melhor dizer milhares de paulistanos?) se dispuseram a deixar seu carro em casa e buscar outro meio de locomoção em nome do meio ambiente. Uma ação fantástica que, na minha opinião, precisaria de um pouco mais de força em cidades como Goiânia (nem a imprensa local noticiou - onde está o compromisso social dos veículos?). Por puro e imperdoável esquecimento (talvez não tivesse esquecido se a mídia tivesse divulgado), andei de carro hoje e estou indignada comigo. Já tinha programado passar o dia de bike quando vi, há umas duas semanas, sobre o Dia Mundial Sem Carro. Isso porque um dos meus maiores estresses diários está relacionado ao meu estado nervoso quando sou obrigada a encarar o trânsito durante o dia. Realmente quase adoeço. E imagino que, como eu, deve existir muita gente. Por isso acredito muito nesse tipo de iniciativa: a tal MOBILIDADE e PRÓ-ATIVIDADE que faz o mundo girar. É isso que falta a muito desavisado por aí que não tece uma ruga de preocupação com o futuro de nossos filhos. Se cada um experimentar fazer um exercício de consciência, e a partir daí investir alguns minutos do seu dia na difusão de idéias como esta, não levaremos muito tempo para perceber uma mudança de verdade no comportamento das pessoas e a formação de uma nova consciência entre as próximas gerações. O Dia Mundial Sem Carro é apenas 1 dia e não me custa nada passar 1 único dia sem carro. Como fui lembrada disso apenas hoje de manhã pelas notícias da internet (depois de ter vindo de carona para o trabalho), vou voltar a pé para casa. Fui.

Música da semana

"...mais compreender que ser compreendida". Começo a semana com este propósito, acreditando sempre que meus melhores caminhos são aqueles apontados pelo coração. O mundo precisa de muito mais compreensão. Em casa, na família, com os amigos, com o vizinho, com os mais velhos, no trabalho, no trânsito, nas filas enfim, se pudéssemos entender antes de sermos entendidos, o 'entendimento comum' reinaria e a humanidade poderia então evoluir. Mas ser humano não é fácil e, se fosse, não haveria sentido algum a felicidade. Pois é, sou humana. Erro, acerto, erro de novo, tento acertar de novo, e assim vou seguindo. Vivendo, aprendendo, levando umas derrapadas, mas sempre de pé, pronta pra contar mais uma história. "Eis o melhor e o pior de mim". E se não me resta escolha a não ser compreender o mundo que me cerca, não acho que seja muito esperar um mínimo de compreensão daqueles que sabem que sou gente. De carne, osso, alma e coração.

E por falar no meu infinito tão particular, essa é a música da minha semana.


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Bandeira Viva

Recebi hoje o link do novo hotsite da Petrobras. A campanha é muito bacana e dá um bom exemplo de como trabalhar a interatividade com o público em uma idéia institucional. Acessei e já fiquei com vontade de participar. E depois de criar minha bandeira, gastei alguns minutos clicando nas milhares de fotos de rostos de brasileiros e suas opiniões sobre o futuro. Bem legal.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Amigos são para sempre

Existem infinitas formas de dizer que se tem saudade de alguém. Eu tenho paixão por um grande amigo. Na verdade, para o meu coração, um irmão. O tempo e a distância têm nos mantido cada um em seu caminho, mas o amor nunca se rende a eles. Meu grande amigo irmão Willian, que tanto já me ensinou, continua me inspirando com seu jeito de ser. Saudade!

Willian:
Oi amore... Pois é... o Rubem Alves que fala que a saudade é igual a um queijo suiço: "quanto mais velho, mais cheio de buracos vai ficando...". Cada saudade é um buraquinho... Também tenho muita saudade... Bjão


(Aprendi com ele a gostar de Rubem Alves, quando carinhosamente me presenteou com o livro Tempus Fugit).

Simples assim

Amo a simplicidade. E quando ela me escapa, me perco. A sensação de que estou na contramão do mundo pode ser um sintoma da complicação de quase tudo e de quase todos que me cercam. Ainda bem que estou no 'quase'. O amor, simples como ele é, sempre me salva.

"Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos."
Fernando Pessoa

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Música da semana

A vida é tão rara...
E raramente paramos pra pensar nisso.

Esse meu momento de mudanças, de uma nova proposta de vida, de surpresas, cuidados, sacrifícios, alegrias, expectativas, tudo isso tem feito com que eu pense muito mais sobre tudo.
Depois de muitos acontecimentos em tão poucos dias, descobri o mínimo que a vida nos exige em momentos como esse: paciência.
Um pouco mais de paciência.

sábado, 29 de agosto de 2009

Contrato comigo não

Minha semana foi rodeada de contratos (e olha que sou a minoria da família que faz questão de passar léguas de distância de qualquer assunto jurídico - para isso tenho mãe e irmã). Escrevi, alterei, revisei, alterei de novo, me embolei com cláusulas e mais cláusulas. Aluguel, arrendamento, mudanças, muitas mudanças em poucos, pouquíssimos dias. A partir de agora tenho duas vidas: uma por compromisso e outra por opção. Uma pela razão e outra pelo coração. Uma em Goiânia, outra em Trancoso. Uma meia vida aqui e uma vida inteira lá. Os contratos estão feitos, assinados, reconhecidos, carimbados e registrados. Agora só preciso ajustar minhas próprias cláusulas. E tô com a sensação de que para algumas coisas na vida não adiante seguro, fiador ou avalista. Não quero pagar multa se tiver que rescindir. Afinal, quem pode garantir qualquer coisa que dependa do coração?

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Música da semana (passada)

Semana passada não postei a música da semana (talvez pela correria), mas antes tarde que nunca. Aliás, essa música - Lento, de Julieta Venegas, que me foi apresentada por meu amigo Fabrício, fala sobre o tempo. Sobre a paciência e a delicadeza de respeitar o tempo. Então parei por alguns instantes e me dei conta de que na vida perdemos milhões de chances de esgotar cada momento pelo impulso incontrolável de nos atropelar no tempo. A pressa de estar sempre à frente nos rouba o encanto do agora, e preocupados com o que vem amanhã, esquecemos de nos entregar ao hoje. Aí me lembro que não deve ser por acaso que ensinam em terapias e tratamentos de recuperação aquela fórmula ‘um dia de cada vez’. Ela realmente deve tornar as coisas mais fáceis. Então para quem alimenta o famoso vício da correria (eu sei que estou falando comigo), dar-se tempo para viver um dia de cada vez pode ser um bom exercício.



* Em tempo: estou ouvindo essa música há 2 dias, é linda. Obrigada Fabrício.
* A versão unplugged da mtv é ainda mais linda. Vale à pena.

domingo, 23 de agosto de 2009

Brasileiro que é brasileiro não desiste nunca!

Hoje deu Rubinho.

Sou fã de Fórmula 1 e (podem falar o que quiserem), sou fã de Rubens Barrichelo. Quem viu a corrida hoje viu um brasileiro que não desiste e que insiste em mostrar que brasileiro tem vida, tem garra, tem um sorriso aberto no rosto e não tem medo de brigar pelo que acredita. Sorte, azar, complôs de equipe, injustiças, críticas maldosas, muita falação...
Rubinho aguenta de tudo um pouco e mesmo assim continua lá, acelerando até onde pode e correndo de forma limpa pra chegar à vitória. Que não seja sempre a vitória do pódio, mas a vitória de quem representa seu país com a alegria e a certeza de que fez o melhor sempre. Ele só me passa coisa boa. Gosto dele.

sábado, 22 de agosto de 2009

Noite à baiana

Noite de sábado em casa. Na cozinha, Kênia experimentando uma receita baiana (daqui pra frente vai ser assim). Peixe, camarão, tomate, cheiro verde, leite de côco e azeite de dendê (a moqueca tá montada!). Se dividindo entre a sala e a cozinha, nosso grande amigo Fabrício - presença constante (e muito importante) em nossas vidas. Pra fechar, Bernardes, as filhotas e eu. Tem gente que vive para ser feliz. Eu prefiro fazer o contrário: sou feliz para viver. E isso torna tudo muito mais fácil. Momentos simples, tranquilos, pessoas que amo, uma comida abençoada na mesa, conversas, risadas e um brinde ao amor. Coisas assim me realizam de verdade. E se a vida é feita disso, de momentos, por que não ser feliz para vivê-los?...

Cheers!

domingo, 16 de agosto de 2009

A Bahia tem mesmo um jeito

Tive a sorte de passar o fim de semana em Trancoso - talvez um dos lugares mais charmosos da Bahia . E digo sorte porque é um privilégio de verdade sair do meu mundinho 'caramujo' pra viver 2 dias intensos em um canto abençoado como este. Aqui tem-se a impressão de que o mundo lá fora parou. É mais fácil esvaziar a mente e dormir uma noite inteira sem acordar. Ninguém tem pressa de nada e mesmo assim tudo acontece. Existem praias quase desertas e hoje, sentada na areia, tive a sensação de que meditar pode ser a coisa mais fácil do mundo. Consegui ficar ali sentada, quieta por um longo tempo, sem vontade de balançar as pernas ou morder os dedos da mão (incrível!). A tarde na vila é um silêncio que até incomoda. É que tirar um cochilo depois do almoço é lei. Todos descansam pra encarar a noite, que é tentadora e extremamente prazerosa. A Bahia realmente tem um jeito. E é gostoso sentir de perto esse modo devagar e feliz de viver. As pessoas aqui têm cara de felizes. Vivem com pouco, de forma simples, mas vivem. Aí é que mora a diferença. Em 3 dias, esta é a primeira vez que conecto a internet. Celular, relógio, agenda... só amanhã de manhã. Por enquanto tô tranquila. Até amanhã, segunda-feira, dia de voltar pra vida real, estou baiana. E vou dormir. Goody naity.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Música da semana

Não é que eu ouça só Marisa Monte, é que neste momento da minha vida as letras e o estilo dela caem bem a qualquer momento. Encontrei hoje uma entrevista da época do lançamento do Infinito Particular onde ela fala sobre essa música, Vilarejo. Como eu ainda não conhecia o clipe, fiquei surpresa ao ver imagens tão fortes constrastando com a letra, que é tão pura e tão leve. Fui entender melhor quando vi a opinião da própria Marisa. Abaixo, o trecho da entrevista publicada no O Estado de São Paulo que justifica a idéia de Vilarejo.

"A gente fica sempre cobrando transformações do mundo, do governo, do Lula, do ministro, do Congresso e não sei o quê. Acho que o indivíduo é a sociedade. Então, essa canção fala de todas aquelas coisas maravilhosas que o mundo poderia ser e é também um olhar contrastante em relação ao que a gente vive hoje", diz. "É muito ingênuo e leviano achar que alguém vai mudar alguma coisa se a gente não mudar cada um de nós. Acredito que essa é a única transformação possível no Brasil: todo mundo não jogar lixo na rua, na praia, não fazer xixi na esquina, reciclar seu lixo, pegar o cocô do seu cachorro, todo mundo eleger melhor o Congresso, ser um consumidor consciente", prossegue. "Vilarejo fala no final: `tem um verdadeiro amor para quando você for´. Quer dizer, qualquer um pode ter esse lugar. É uma questão de transformação interior, de decisão individual."

A tal transformação interior, na minha opinião, talvez seja muito mais difícil que qualquer ação ou iniciativa 'exterior', tipo não jogar lixo na rua ou ser um consumidor consciente. Mas por ser mais difícil, pode ser que a Marisa realmente tenha razão em suas colocações. Mudar o mundo não é mesmo uma tarefa superficial. E também não é pra qualquer um. Mas nunca perco a esperança e acho que pra quem tem a coragem de transformar-se interiormente, mudar o mundo deve ser fichinha...

Sossega, coração!


Ilustro meu começo de semana com este poema de Fernando Pessoa.
Uma segunda-feira desassossegada, digna de quem passou o final de semana alimentando expectativas. Ainda bem que meus sonhos são sempre melhores porque tenho alguém que os sonha comigo.
E tenho até pena de quem não tem um amor.


    Sossega, coração! Não desesperes!
    Talvez um dia, para além dos dias,
    Encontres o que queres porque o queres.
    Então, livre de falsas nostalgias,
    Atingirás a perfeição de seres.

    Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
    Pobre esperença a de existir somente!
    Como quem passa a mão pelo cabelo
    E em si mesmo se sente diferente,
    Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

    Sossega, coração, contudo! Dorme!
    O sossego não quer razão nem causa.
    Quer só a noite plácida e enorme,
    A grande, universal, solente pausa
    Antes que tudo em tudo se transforme.

    Fernando Pessoa, 2-8-1933.

Que seja uma linda semana. Sossegada, de preferência.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Casamento feliz (?)

De duas, uma: ou a semana foi corrida demais ou eu fiquei parada no tempo e não vi os dias passando. Tanta coisa pra fazer e não saber por onde começar. Vivo esse drama com certa frequência. Pra quem ainda não sabe, tenho uma agência de propaganda, a GuaranáCafé. E propaganda é um negócio estranho. Depois que você entra, não consegue sair com tanta facilidade ou pelo menos com desapego. É uma profissão que te dá altas doses de prazer e te massageia o ego em alguns momentos, mas em troca suga teu sangue (quando não te toma alma). É um negócio estranho. Te faz feliz e, ao mesmo tempo, te frustra. A princípio te promete o mundo e logo em seguida te trai com a dura e impiedosa realidade. Eu aprendi a amar a propaganda e me casei com ela no sentido mais tradicional da palavra. Prometi ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe. A GuaranáCafé nasceu desse amor e quero vê-la crescer feliz e saudável. E que cresça para o mundo, não pra mim. Nesse meu casamento com a propaganda sempre fui muito feliz e talvez ainda seja. Mas que ninguém me ouça: nunca me senti tão tentada a pular a cerca.

Pra quem não conhece a GuaranáCafé:

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Na alegria e na tristeza, let's dance!

Quem acompanhou os vídeos mais comentados dos últimos dias deve ter visto o 'casamento dançante', em que os padrinhos e noivos entram na igreja fazendo uma performance de uma coreografia que surpreendeu os convidados (se não viu, veja aqui). A matéria do Fantástico de ontem mostrou o vídeo e pediu a opinião da consultora de etiqueta Glória Kalil, que elogiou a criatividade mas deixou uma crítica à circunstância. Segundo ela, a igreja é um lugar sagrado e deve ser respeitada conforme seus padrões. No primeiro momento acho que até concordei com ela, mas talvez eu já esteja mudando de opinião. Se a igreja não é o melhor lugar para a brincadeira criada pelos noivos, que tal repetir a idéia na sala de audiência no momento do divórcio? Foi isso que fizeram neste segundo vídeo. Achei divertido.



E quer saber? Com o mundo do jeito que está hoje, o que a gente mais precisa é curtir e dar risada. Na igreja, na frente do juiz, em qualquer lugar, let's dance!

Bem lá no fundo...



Toda segunda tenho a sensação de recomeço. É como se meu tanque de energia tivesse a autonomia exata de 1 semana e o reabastecimento programado para todos os domingos (em casa, de preferência). E quando o combustível falta ou o motor se rende ao vício da rotina, busco um aditivo nos meus sonhos. Hoje logo que cheguei na agência recebi este vídeo do meu amigo Bean. "Pra alegrar seu dia", disse ele. E alegrou. No mínimo, me deu um pouco mais de gás pra encarar a semana. Isso porque sou daquelas que acredita (e investe) na idéia de um dia ser salva - mudar radicalmente de vida pra conseguir viver melhor. Esse vídeo, criado para divulgar um lançamento da Olympus em comemoração aos 50 anos da marca, resgata a história de vida do personagem de uma maneira fantástica. Pra casar com a idéia, a música Down Below aconselha: "Seja exatamente o que você quer ser. Faça exatamente o que você quer fazer porque a vida não espera. Os anos estão passando e tudo irá mudar". Tudo perfeito para uma segunda-feira. O vídeo, a música e lá no fundo, a certeza de querer fazer a vida valer à pena.

Quem quiser pode baixar a música aqui.

domingo, 2 de agosto de 2009

Momento descontra(cão)


Essa deliciosa vida de cão é pra quem merece. A Mel, nossa filhota que está no meu colo, teve 6 lindos filhotinhos há pouco mais de 2 meses. Ninguém acreditou que essa coisinha tão pequenina pudesse carregar um barrigão de 6 filhotes. A última a nascer, nossa Miucha (no colo da Kênia), parecia tão frágil que tivemos medo de que ela não resistisse. Mas filhotes de Mel, teimosos são! Como a mãe, todos nasceram fortes, bravos, geniosos e incrivelmente lindos. Tivemos sorte de ter todos os filhotes 'adotados' por grandes amigos como a Bernardes (no meio com a Jolie, que tem focinho rosado e olhos azuis!), e o Genim e a Roberta (meus amigos, sócios e pais da Lua, a mais animada da turma). Os outros 3 também estão com amigos recebendo o amor e o cuidado que merecem. A verdade é que, em casa, esses bichinhos acabam se tornando um dos momentos mais alegres de cada dia. O carinho que a gente recebe quando acorda, a euforia quando chegamos em casa depois de um longo e estressante dia, os 10 minutos de cochilo na cama antes de dormir, a cumplicidade e a fidelidade em todos os momentos... Quem experimenta esse tipo de amor nunca mais volta atrás. A Mel mudou minha vida, meu modo de pensar, de agir, de encarar os desafios. Esse presente eu devo à Kênia, que me mostrou o quanto podemos aprender com a natureza dos animais. Agora veio a Miucha, uma bolinha de pêlos brancos e carinha redonda que tem o focinho ligeiramente entupido e que de tão engraçada é linda! A Jolie (aquela dos impressionantes olhos azuis) também tem desfilado sua exuberância pela casa. Ela é da Bernardes. Mas é nossa também. A família cresceu e agora somos 6 em casa: eu, Kênia, Bernardes, Mel, Miucha e Jolie. E não há nada nesse mundo capaz de roubar a alegria de chegar em casa e brincar como crianças com nossas filhotas. No ritmo alucinante em que a maioria de nós vai levando a vida, faço questão de dar cada vez mais valor a momentos assim. E pra quem nunca dividiu segredos e trocou carinhos com um bichinho de estimação, eu recomendo. Alivia o coração e faz muito bem pra alma.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Música da semana

Silêncio, por favor. Isso é tudo que eu preciso essa semana. Os dias estão me atropelando com os acontecimentos e meu raciocínio está operando no modo automático. Talvez uma pausa seja proveitosa. Uma de mil compassos, de preferência...



Essa música me faz fechar os olhos e esquecer de tudo.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Ensaio sobre a experiência

José Saramago é blogueiro. Me deparei com esta grata surpresa neste fim de semana (talvez um pouco atrasada), lendo uma entrevista publicada no Estadão na última sexta e republicada no O Popular no dia seguinte. Para os que resistem ao mundo virtual e insistem na vida analógica, Saramago dá uma lição de sabedoria sobre o uso da internet. Fala de liberdade de expressão, utilidade de um blog, direitos autorais de conteúdos da web e ainda da literatura neste universo digital. Com respostas curtas e até muito objetivas, o escritor mostra em cada raciocínio porque ganhou o Nobel da Literatura e continua surpreendendo até hoje, aos 86 anos, leitores do mundo inteiro. Para ele, a internet e suas ferramentas estão longe de ser uma revolução: "revolucionário foi o telefone", afirma com a propriedade de quem viu nascer a televisão e tudo o que veio depois. Publicar seus textos em um blog é apenas mais uma forma de chegar mais longe e mais depressa. Em poucas palavras, Saramago fala com brilhante lucidez da obsessão pela rapidez nos dias de hoje e da perigosa ilusão de que se pode vencer o tempo. Pra quem é fã como eu, vale à pena conferir a entrevista e fazer uma visita ao site/blog do escritor.

(http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090725/not_imp408039,0.php) (www.josesaramago.org)

domingo, 26 de julho de 2009

Um blog pra sossegar

Já estamos no final de julho e 2009 ainda não me deu sinal de que posso respirar tranquila. De todos os meus planos, aqueles que sempre insistimos em fazer na virada do ano, uma boa parte se cumpriu e, antes que a outra também se cumpra, já não sei mais se fazer tantos planos é a melhor forma de realizar qualquer coisa. Este ano fiz 30 e estou tentando descobrir se a minha inquietude aumentou com a idade ou se é porque ainda não encontrei meu lugar nesse mundo. O que importa é que estou em busca. Em vez de fazer planos, vou me permitir fazer vontades. Isso inclui tudo que vou colocar neste blog. Sem pensar muito vou escrever, desabafar, dividir, descarregar minhas inquietações. Talvez isso me ajude a sossegar.